sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Conto IV - Pinóquio em Concerto, sem colóquio em desconserto.

Pinóquio em concerto, consertado e elevado com o som que lhe tocava a alma de madeira. Movimentos articulados, jeito de menino, mas que pena... Perdera a cara de pau.
Menino bom, de fino trato, poderia fazer qualquer uma das moças mais feliz do que a própria Felicidade, porém, seus olhos feitos com as sobras de madeira da carpintaria de seu criador, já estavam pregados, fitavam sem cansar a beleza daquela que emprestou o nome para a própria Beleza se chamar.
Pinóquio, que agora era menino, tinha o medo e a vergonha dos homens, se escondia e disfarçava, fechava os olhos e fingia ignorar a Beleza. Por um átimo desejou sua vida de brinquedo de volta, assim poderia olhar, sem ser notado, com aquela cara de bobo sorridente que é comum à todos os bonecos.
Já não dava para voltar atrás, Pinóquio sentia os cupins lhe estraçalharem o peito... Parou e pensou: “Não sou mais de madeira, sou menino.” O que lhe causava tanto aperto, tanta falta de ar? Seria o amor? Não sabia.
Existe conserto para isso? Existe concerto para isso? Perguntou suas dúvidas a um amigo que lhe respondeu: “Sim meu caro. Lá existem Sinfonias, Fantasias, Rapsódias e todas as danças do mundo, mas infelizmente o concerto acaba aí, pois quando quebrado não há conserto, e se sofres deste mal, é danado.
Pinóquio. Pinóquio. Ó Pinóquio. O pobre do garoto estava desconsertado, andava pensativo e aos suspiros pelos cantos, com a cara de bobo dos bonecos mesmo sendo menino, tudo por causa da Beleza. Seu nariz só crescia ao negar quando era perguntado se amava.
Ó Pinóquio, presta atenção menino boneco, faltam as palavras, falta o colóquio. Tinha esquecido desse desejável detalhe.
Colóquio. Tinha se preparado para as primeiras palavras, não pensou em nada, mas sabia aproximadamente o que deveria falar. Colóquio!!!!
Era um cordado, que vivia corado. Lembrou-se das bolinhas vermelhas que tinha no rosto quando era brinquedo. Pinóquio tinha sido pego pela vergonha dos meninos, aquela chamada timidez.
Tornou-se um humano típico, vivia de inventar desculpas para si mesmo: “Não a encontro”. “Depois eu falo”. Depois, depois depois. Até que a vida se cansou e deu um jeito de trombar os dois. Quase, por muito pouco Pinóquio e a Beleza não se chocaram...
Um susto.
Vocativos? Não, apenas interjeições. Não de surpresa e sim de fracasso, de voz engasgada, de falta de palavras e da ausência do diálogo.
Um sorriso. Lindo por sinal.
Pinóquio em hipnose disse: Oi!
Não esperem mais do que isso. Foi um oi e só. Os dois se desviaram do caminho um do outro e prosseguiram.
Até agora não consigo acreditar que o menino perdeu tal oportunidade para o sonhado colóquio. Boneco, depois que virou menino, perdeu a cara de pau.
Agora choras, choras... Mas não se preocupem com o nosso amigo, tentarei consolá-lo. A vida há de lhe mostrar outros caminhos. Por enquanto ajudo-o a consertar os remendos e preparar o traje de gala para o concerto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você escreve super bem!!! Ensina-me a escrever assim também? hahahahahahahaha. Simplismente curti demais esse texto do Pinóquio. Só posso disser: Uau! Beijos, e mais ótimos textos por aí!