sexta-feira, 25 de abril de 2008

Felicidade

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
(tom jobim / vinícius de moraes)

O grande lance da vida é finalmente perceber que o segredo da vida... não é ser feliz.
Felicidade, assim como a grande maioria das coisas, é apenas uma construção socio-cultural. Somos desde pequenos ensinados, treinados e moldados para sermos felizes... e... quando não o somos, nos sentimos fracassados e desiludidos.
Aprender a não ser feliz é aprender a ser feliz... é aprender a curtir um sorriso, uma conversa com amigos, um beijo de uma pessoa, o frio na barriga de um novo amor, sem necessariamente precisar destas coisas... é saber que a felicidade está em não precisar ser feliz.

domingo, 20 de abril de 2008

Interregno

Eu, como todo bom “neo-barroco”, sempre fui um sebastianista.
Vivia a sonhar com a volta de D. Sebastião...
Um dia a querela com a Espanha se “resolveu” e assumiu o poder D. João de Bragança, que se tornou o rei de Portugal, o quarto com esse nome.
D. João IV, porém, teve um reinado curto.
Deste modo, muitos passaram a acreditar em sua volta, assim como acreditavam no retorno de D. Sebastião.
D. Sebastião se foi. D. João também parece que sim...
Só me restou o vazio do interregno...
Até um rei, soberano, que irá se levantar como um Leviatã, acabar com o estado de guerra de todos contra todos e trazer a paz ao povo e a minha alma.
Até esse dia chegar só me resta o trono vazio...
Uma nova dinastia, ou quem sabe a aparição de algum rei dito morto.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indivizível emoção
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...
(Vinícius de Moraes)

O que amamos no amor, a pessoa ou sentimento em si?

domingo, 13 de abril de 2008

O Individualismo e a Técnica

Hoje estava lendo um livro chamado “Cybercultura”, escrito por um filósofo francês, que abordou um ponto interessante: nada é desenvolvido se a sociedade não está pronta para absorver tal coisa. Ainda não sei bem se concordo com ele, pois até agora achava que a técnica é quem guiava a sociedade, ou seja, que a descoberta de uma nova tecnologia é o que mudava a maneira de ser, atuar e de se relacionar dos povos. Como exemplo, podemos citar a internet, cuja, em minha opinião, mudou o jeito da sociedade se enxergar, além de conseguir juntar duas coisas distintas: autonomia e alteridade. Aproveitarei os argumentos do filósofo para, de acordo com eles, mostrar minha opinião e discutir algumas peculiaridades interessantes, expandindo seus exemplos.
Pierre Lévy, o autor do livro, através de alguns exemplos dá fortes argumentos que discordam de minha idéia, defendendo que a técnica é criada pela sociedade que precisa dela para suprir suas necessidades individuais. Nesse sentido o individualismo seria um forte “patrocinador” para o desenvolvimento de novas tecnologias e meios de relacionamento.
Segundo essa premissa, a criação e aquisição de carros buscam uma autonomia de locomoção do ser, como pessoa única. O que podemos interpretar como uma tentativa de estar fora da coletividade, fora do caótico transporte público, ser livre do todo. O mais engraçado nisso é que quanto mais os indivíduos tentam sair do coletivo, mas se juntam a uma nova forma de coletividade. Aquele ser humano que comprou um carro para se destacar em sua autonomia está, hoje, preso em um engarrafamento junto com mais alguns dos diversos indivíduos que buscaram tal liberdade.
Outro exemplo interessante é a criação do correio, que só surgiu no século XVII, apesar de experiências parecidas na antiguidade e na China. A era do desabrochar do individualismo, segundo muitos autores, foi o que propiciou o desenvolvimento da comunicação entre particulares, gerando uma série de “revoluções”: “a correspondência econômica e administrativa, a literatura epistolar, a república européia dos espíritos (redes de sábios, de filósofos) e as cartas de amor... O correio, como sistema social de comunicação, encontra-se intimamente ligado à ascensão das idéias e das práticas que valorizam a liberdade de expressão e a noção de livre contrato entre indivíduos” (LÉVY, 1999). Porém, por outro lado, a correspondência entre duas pessoas conhecidas através de seus endereços pessoais, hoje, virou também um suporte para o mercado e suas “malas diretas”.
Segundo Lévy, a popularização dos “personal computers” também surgiu por causa do desejo da individualidade, o desejo do privado, e o que era sonho no começo do século passado se tornou realidade nas últimas décadas do século passado.
Pensando nisso e em como as novas tecnologias são forjadas para o indivíduo, achei outros modelos interessantes no nosso dia a dia. Por exemplo, como disse um professor meu da faculdade de História, já pensaram por que a privada recebe esse nome? Quer algo mais individualista do que as suas necessidades fisiológicas? Nos quartos de uma casa de classe média, quase em sua totalidade, há uma suíte, novamente a intimidade do casal e muitas vezes dos filhos. Hoje em dia, pensando ainda nas residências, cada quarto tem sua TV, seu DVD, seu computador, cada um tem o seu, o espaço da sala que reúne a família está cada vez mais distante.
Todos esses pensamentos surgiram numa viagem de trem permeada por seus indivíduos com seu ídolo de individualidade musical, o mp3. Quero deixar bem claro que não estou criticando o uso de aparelhos de mp3, tenho o meu também, mas é interessante pensar como o ato de ouvir música “evolui” - entre aspas porque é complicado dissertar sobre o que é “evolução” - de um encontro social, representado pelos concertos públicos, para a vitrola no âmbito do lar, para o individualismo do walkman, discman e finalmente, do mp3. Hoje não estamos mais limitados nem mesmo pelos formatos da industrial cultural, ou seja, o álbum. Agora podemos escolher apenas as músicas que mais nos satisfazem de cada disco e ter quantas canções suportarem os Megabytes dos nossos mp3. Já não precisamos mais andar com um porta-cd lotado com várias possibilidades de álbuns, tal formato já não nos escraviza mais.
Toda essa individualidade é interessante, se por um lado ela nos aprisiona novamente nos engarrafamentos, por outro, nos liberta da Indústria Cultural e outras tentativas de massificação. Nesse texto tentei apenas levantar alguns pontos para pensarmos sobre o assunto, não proponho chegarmos a conclusões, pois o assunto é vasto e não há uma “verdade” inexorável, mas quero deixar algumas perguntas: será que o passado nos mostra que a individualidade leva à massificações, à coletividade? Será que algum dia seremos prisioneiros de nossa liberdade via mp3?

sábado, 5 de abril de 2008

Propriedade Intelectual e Internet: um novo paradigma

Há algum tempo estou pesquisando sobre música e Internet, tema que irei abordar no meu TCC da faculdade de música, e um dos assuntos mais tratados nos artigos lidos é a questão do direito autoral vs MP3. O que leva uma pessoa a copiar um disco e distribuí-lo gratuitamente na Internet, ou podemos até perguntar, o que leva uma pessoa a disponibilizar suas próprias músicas gratuitamente na Internet? O que move essas pessoas?
A Internet tornou-se um território livre, um território e uma sociedade sem espacialidade, sem fronteiras. Eu e você, mesmo em lugares distintos, estamos em contato próximo, pois, na Internet, não existe materialidade, não existe mais divisões político-nacionais, todos fazemos parte de um mesmo país, a Pangéia virtual, ligados pelos mesmos sentimentos étnicos de uma nova sociedade, uma sociedade de rede.
Assim como toda sociedade, a Internet também tem o seu ethos próprio, ao entrar, somos levados a entender as regras do jogo, suas possibilidades e limitações, sendo que, logo estamos afogados em um mar de informações, onde não nos interessam perguntas como: Qual é o sentido da Internet? De onde veio o webmaster? A busca por explicações metafísicas, quase religiosas, caem por terra ou ficam conosco fora da virtualidade. O oceano de bits está lá para quem quiser navegar, não nos interessa de onde surgiu e o sentido de toda essa informação.
O Ethos da Internet, apesar desta ter surgido do capitalismo, é baseado na troca, não mais de mercadorias, não estamos falando de compra e venda, mais de “presentes”. Quando eu faço o download de um mp3, estou ganhando o trabalho, não mais alienado, mas voluntário de alguém, de presente, e a maneira de fazer a roda da “vida virtual” girar, é retribuir, dando algo que me pertence à rede.
Ignorada na Internet, a propriedade privada vai dando lugar a propriedade comunitária, afinal, tudo o que está na rede é de todos, tudo pode ser acessado e copiado por todos, o que leva alguns autores a falar até em um cybercomunismo. Enquanto, ainda somos escravos da propriedade privada na vida real, na virtualidade, libertos desta podemos dividir e cooperar para o bem-comum, através do ethos do presente.
Na Internet, embora haja trabalho pago e pessoas que vivem disso, a grande maioria do trabalho é voluntário e não apenas um meio de sobrevivência, trabalha-se pelo reconhecimento, pela ajuda mútua, pelo comum a todos e não por aquilo, o capital, que vai suprir suas necessidades básicas e vai te fazer comprar conforto. Na Internet a “troca” não está condicionado a cifras, e sim a uma consciência entre indivíduos que muitas vezes nem se conhecem.
Ver as tentativas reacionárias das altas hierarquias capitalistas, para manter a propriedade privada na rede e para fazer do território livre, um livre comércio, me entristece deveras. Já há algum tempo, tenho sido contra a manutenção da propriedade privada intelectual, e declaro que disponibilizarei meus futuros livros gratuitamente na Internet, acho um pecado a propriedade privada do saber, da cultura, etc.
Ontem, navegando na Internet, me deparei com uma situação inusitada que me inspirou a escrever essas linhas. Achei um cara que copiou um material meu de guitarra, publicado no Guitar X, e estava distribuindo-no em um fórum de música gratuitamente, ele tinha compilado este material em uma apostila e estava distribuindo para quem quisesse. Apesar de ter ficado um pouco com chateado pelo fato de ele não falar que o material foi retirado do Guitar X, essa situação me fez perceber que há muito tempo, através do site, estou jogando o jogo da Internet e distribuindo o que sei, o que me deixou muito feliz. Mesmo sem a consciência disso naquela época, entrei na era do presente e comecei a minha luta contra a propriedade privada intelectual. Viva o cybercomunismo.