sábado, 5 de abril de 2008

Propriedade Intelectual e Internet: um novo paradigma

Há algum tempo estou pesquisando sobre música e Internet, tema que irei abordar no meu TCC da faculdade de música, e um dos assuntos mais tratados nos artigos lidos é a questão do direito autoral vs MP3. O que leva uma pessoa a copiar um disco e distribuí-lo gratuitamente na Internet, ou podemos até perguntar, o que leva uma pessoa a disponibilizar suas próprias músicas gratuitamente na Internet? O que move essas pessoas?
A Internet tornou-se um território livre, um território e uma sociedade sem espacialidade, sem fronteiras. Eu e você, mesmo em lugares distintos, estamos em contato próximo, pois, na Internet, não existe materialidade, não existe mais divisões político-nacionais, todos fazemos parte de um mesmo país, a Pangéia virtual, ligados pelos mesmos sentimentos étnicos de uma nova sociedade, uma sociedade de rede.
Assim como toda sociedade, a Internet também tem o seu ethos próprio, ao entrar, somos levados a entender as regras do jogo, suas possibilidades e limitações, sendo que, logo estamos afogados em um mar de informações, onde não nos interessam perguntas como: Qual é o sentido da Internet? De onde veio o webmaster? A busca por explicações metafísicas, quase religiosas, caem por terra ou ficam conosco fora da virtualidade. O oceano de bits está lá para quem quiser navegar, não nos interessa de onde surgiu e o sentido de toda essa informação.
O Ethos da Internet, apesar desta ter surgido do capitalismo, é baseado na troca, não mais de mercadorias, não estamos falando de compra e venda, mais de “presentes”. Quando eu faço o download de um mp3, estou ganhando o trabalho, não mais alienado, mas voluntário de alguém, de presente, e a maneira de fazer a roda da “vida virtual” girar, é retribuir, dando algo que me pertence à rede.
Ignorada na Internet, a propriedade privada vai dando lugar a propriedade comunitária, afinal, tudo o que está na rede é de todos, tudo pode ser acessado e copiado por todos, o que leva alguns autores a falar até em um cybercomunismo. Enquanto, ainda somos escravos da propriedade privada na vida real, na virtualidade, libertos desta podemos dividir e cooperar para o bem-comum, através do ethos do presente.
Na Internet, embora haja trabalho pago e pessoas que vivem disso, a grande maioria do trabalho é voluntário e não apenas um meio de sobrevivência, trabalha-se pelo reconhecimento, pela ajuda mútua, pelo comum a todos e não por aquilo, o capital, que vai suprir suas necessidades básicas e vai te fazer comprar conforto. Na Internet a “troca” não está condicionado a cifras, e sim a uma consciência entre indivíduos que muitas vezes nem se conhecem.
Ver as tentativas reacionárias das altas hierarquias capitalistas, para manter a propriedade privada na rede e para fazer do território livre, um livre comércio, me entristece deveras. Já há algum tempo, tenho sido contra a manutenção da propriedade privada intelectual, e declaro que disponibilizarei meus futuros livros gratuitamente na Internet, acho um pecado a propriedade privada do saber, da cultura, etc.
Ontem, navegando na Internet, me deparei com uma situação inusitada que me inspirou a escrever essas linhas. Achei um cara que copiou um material meu de guitarra, publicado no Guitar X, e estava distribuindo-no em um fórum de música gratuitamente, ele tinha compilado este material em uma apostila e estava distribuindo para quem quisesse. Apesar de ter ficado um pouco com chateado pelo fato de ele não falar que o material foi retirado do Guitar X, essa situação me fez perceber que há muito tempo, através do site, estou jogando o jogo da Internet e distribuindo o que sei, o que me deixou muito feliz. Mesmo sem a consciência disso naquela época, entrei na era do presente e comecei a minha luta contra a propriedade privada intelectual. Viva o cybercomunismo.

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