quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CONTO XVIII - MORTOS

Ele sorriu. Fazia anos que não via o rosto dela. Ao pegar um livro na estante da biblioteca, descobriu uma foto velha e amarelada. Sr. Galeão quase chorou de emoção ao ver o retrato da esposa. Sentiu um sopro de vida lhe preenchendo a alma, algo que não sentia há anos. Ao rever o rosto sorridente de sua amada, se deu conta da tragédia evitada: já estava esquecendo suas feições. “Como era lindo seu sorriso”, pensou ele.
Pensou em sua vida desde que ela partiu. Nada. Apenas sangue correndo em seu corpo, sem motivo de correr. Aquele rastro de vida que o fazia querer ser melhor, que o fazia sonhar, sumiu. Era apenas um zumbi, sem vida, sem sonhos e sem função. Os filhos casados, a casa grande, a solidão. O título daquele livro o fez refletir e chorando perguntou a si mesmo: “Se a vida é sonho, estaremos todos mortos?”


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