terça-feira, 11 de novembro de 2008

CONTO XVII - PRÓXIMAS... TÃO PRÓXIMAS


- Olha vô! Vou entrar na internet para o senhor ver o que é isso que tanto falam.
O jovem sentou-se na frente do computador ansioso para mostrar o mundo onde passava horas. O senhor sentou-se na cama do rapaz e aguardou sem saber muito bem o que lhe esperava.
- Pronto, estou conectado com o mundo, vô, com o mundo. - disse o jovem acentuando bem a frase repetida.
- A internet é uma revolução. Podemos falar com pessoas no Japão, na Argentina, na Irlanda... É uma beleza essa tecnologia. O mundo nunca esteve tão próximo.
O jovem era infatigável nos elogios à rede mundial de computadores.
- E o conhecimento que ela nos dá? Incrível, vô, incrível. Você quer saber uma coisinha é só entrar no Google e pronto, temos centenas de páginas, senão milhares, sobre o assunto que queremos e tudo isso em menos de um segundo”.
“E o Orkut? Vô, você consegue achar várias pessoas, ser amigo delas, saber do que elas gostam, ficar nas comunidades comentando, é demais. Nossa eu tenho quase mil comunidades, é muito legal.
- Ah! O senhor lembra-se do Carlinhos, aquele meu amigo de infância? Então, o achei no Orkut. Não é demais?
O velho, sentado, ficava olhando a empolgação do neto, se sentindo um estrangeiro naquele mundo, sem entender o que era Google, Orkut, comunidade... Mas acreditava que aquilo era uma revolução. Realmente deveria ter mudado a vida de muitas pessoas. Mas, o que aquilo acrescentaria em sua vida? Sua época era outra, época onde o mundo inteiro cabia dentro de uma praça, onde as crianças brincavam soltas como passarinhos, longe das grades dos condomínios. Tempo onde a notícia era criada no boca a boca da cidade, tempo onde o Japão era tão crível quanto os unicórnios, ninguém nunca os tinham visto. O velho pensava nestas coisas, enquanto o jovem continuava a falar sobre a internet.
- Vô, você se lembra das cartas?
- Cartas? Que cartas?
- Aquelas que antigamente as pessoas mandavam umas para as outras?
- Antigamente nada, rapaz, eu mando até hoje.
- Nossa, vô, que coisa mais antiga. Hoje temos um jeito muito melhor de mandar cartas. Além de não dependermos mais do correio, ela chega instantaneamente até a pessoa, chama-se e-mail. Você deveria criar um, todo mundo tem um.
- Para que, meu filho? Eu nem tenho computador em casa.
- Vô, todo mundo tem.
- Mas, eu não preciso. Há coisas que você nunca vai entender. Eu sou de um outro tempo, um tempo onde tínhamos as coisas que precisávamos, afinal...
- Vô, agora dá para baixar até filme na internet. É sério, filmes que ainda nem saíram no cinema. Eu tenho uma porção. É só fazer o download e gravar em uma mídia. Se o senhor quiser, eu te empresto algum.
- Obrigado, Jorginho. Não quero, prefiro ficar com os meus livros.
- Ai, vô, livro é tão chato, tão demorado. Não tenho saco.
- Nossa, vô, olha quem entrou no MSN, minha amiga da Inglaterra. Na verdade, eu to xavecando ela para ver se rola alguma coisa.
- Como assim? Você vai namorar com uma menina da Inglaterra? Sem conhecer?
- Namorar não... É que agora com a Web Cam, bem... Vô, deixa pra lá.
- Eu já não entendi quase nada do que você falou... Orkut, MSN... Ficar sem entender como você faz para namorar uma garota inglesa, não é o problema.
O velho, já um pouco cansado daquela conversa, olhou no relógio e, mesmo faltando ainda quinze minutos para o horário o qual deveria sair, falou:
- Bem, está na hora de eu ir buscar sua avó na aula de piano.
- Mas já, vô? Eu nem te mostrei o Youtube.
- É, meu filho, mas eu preciso ir mesmo. Outro dia você me mostra.
O jovem e o velho se levantaram e foram até o corredor do prédio. Enquanto esperavam o elevador chegar ao andar, o rapaz continuava a apontar as benfeitorias de sua sociedade:
- Hoje o mundo é pequeno, vô. Eu tenho amigos na Inglaterra, no Chile, na Espanha, em Angola... As pessoas estão cada vez mais próximas.
Neste momento o elevador chegou. Dele saiu uma garota loira, meio baixinha, com um sorriso lindo. Ela, educadamente cumprimentou os dois e seguiu para o seu apartamento. Os dois entraram no elevador, e o jovem continuou a falar:
- Não é incrível, vô? Você conectado com uma pessoa do outro lado do mundo? Tão próximo?
O velho como se quisesse mudar de assunto falou:
- Que garota bonita essa que passou, deve ter a sua idade, qual é o nome dela?
- É a vizinha, mas não sei seu nome, nunca conversei com ela.
O velho meio triste respondeu:
- É, meu filho. É impressionante como nos dias de hoje as pessoas estão próximas... Tão próximas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi meu amigo!!! Sumi mas reapareci!!! Adorei o seu conto!!! O mundo virtual tem da suas maravilhas, como ler um conto crítico seu e lembrar de Platão, do mito da caverna. Será que não vivemos isso ainda hoje??? As pessoas esqueceram simplismente de abrirem suas janelas, respirar o ar da cidade em que moram, desfrutarem o sabor de brincar ao ar livre junto com a natureza. Viramos expectros e sombras???É bom refletir sobre isso...

Beijãooooooooooo