sábado, 20 de setembro de 2008

Conto XI - Caim e Abel


Um silêncio escuro. O homem estava sentado em seu sofá em plena escuridão, não quis acender a luz da sala e muito menos ligar a televisão ou o aparelho de som, era apenas ele sentado em um silêncio escuro. Não quis descansar suas costas no encosto do sofá, não quis parecer a si mesmo muito relaxado. Também não quis ficar de pé, nem mesmo sentar-se em uma cadeira dura e gelada da cozinha. Se tinha de esperar que fosse com conforto. Por mais incrível que pudesse parecer, nada passava por sua mente. Algumas vezes lhe dava uma vontade quase incoercível de sorrir, mas ele, no final, conseguia dominar essas forças doentias, e ele sabia que eram doentias, e segurava o sorriso. Os minutos não passavam, ele não tinha um relógio por perto, mas sabia que não passavam. Eles estavam demorando, talvez nunca viessem, talvez devesse se entregar. Conforme a noite ia ocupando seu espaço a sala ficava mais escura e ele, cada vez mais, era consumido pelas trevas. O silêncio foi interrompido, era a campainha. Ele se assustou de início com aquele alarme, paradoxalmente, inesperado e tão aguardado. Aquele som ecoava dentro de sua sala e preenchia o vazio negro do cômodo. Ele se levantou devagar, respirou fundo e foi até a entrada. Puxou a porta arrombada que ele havia recolado no lugar e tentou com cuidado abrir aquele objeto que o separava do lado de fora, que o separava dos tão aguardados visitantes e disse seguro: “Boa noite, estava esperando vocês”.
Ele abriu a porta e deixou um pouco da escuridão presente no cômodo sair. “Só um instante. Vou apenas pegar minha carteira, não demoro”. Os quatro homens que esperavam do lado de fora se olharam desconfiados. Com um olhar, um deles, que parecia ser o chefe, indicou ao mais novo para acompanhar aquele estranho. O rapaz cumpriu a ordem, porém, foi inútil. O homem só havia ido pegar aquilo que prometera na cômoda da sala, nem trinta segundos se passaram, quando aquele ia começar a seguí-lo, este já estava voltando. “Sem algemas, por favor. Não vou reagir”, pediu. Os quatro homens se olharam novamente e concordaram com o pedido daquele que iria se juntar ao grupo. O homem recolocou a porta de sua casa no lugar, do melhor jeito que foi possível, e vez sinal com a cabeça para anunciar que estava pronto. Saíram, os quatro homens formando um quadrado e ele no meio. Enquanto desciam as escadas do prédio mal cuidado em que morava, aquele homem começou a pensar em sua própria história e como tinha chegado naquela situação.
O começo dessa tragédia é tão velho quanto o próprio mundo, desses contos que parecem ter sido propagados pelos quatro cantos desde o começo dos tempos. É necessário voltar um pouco atrás, se for preciso até eras remotas, para entender o fio que teceu esse acontecimento e que, de alguma forma, por destino ou liberdade, manchou de sangue os caminhos por onde a cidade se movimenta.
Tudo começa com um nascimento, pois, não há melhor ocasião, neste caso, para entender os tormentos que se seguirão. A criança nascera, chorava como se já soubesse seu destino. Os pais lhe deram o nome de Caim, nome perigoso e que parecia querer desafiar a história ou até mesmo Deus, como se lhe tentasse dizer: “Olha aqui, meu filho nasceu e é livre para fazer o que quiser e escolher o seu caminho, não cairá sob seus desígnios”. A mãe, apesar de não gostar muito do nome, resolveu aceitar o sugerido pelo pai.
Alguns anos depois nasceria o segundo filho do casal. A gravidez foi extremamente complicada e a criança e a mãe corriam risco de morte. O pai desesperado fez uma promessa daquelas que olhamos para cima, mas não sabemos ao certo a quem pedir, cujo desespero nos força, para dar sentido a nossa própria existência, a acreditar em algo maior do que nós mesmos, mesmo que temporariamente e como uma forma de barganha. Assim, o homem se ajoelhou na capela do hospital e sem saber para onde direcionar sua súplica, olhou para imagem do cristo crucificado e prometeu que, se tudo desse certo, se a mãe e a criança saíssem com vida, o menino que estava por vir, chamar-se-ia Abel.
Tudo correu bem. A criança nasceu e recebeu o nome prometido. Muitos advertiram os pais sobre o perigo que era a escolha destes nomes, advertência a qual respondiam sempre com tom gozador: “Fique tranquilo(a), não nos chamamos Adão e nem Eva”. Os dois não eram dados a essas superstições bobas, porém, a promessa feita era muito séria e deveria ser cumprida.
As crianças cresceram bem, mas, talvez fosse mais certo dizer que cresceram com saúde. Os dois filhos sempre apresentaram um comportamento bem estranho. Caim vivia isolado, não gostava de falar com ninguém, se incomodava com a presença dos outros. Abel era o contrário, falador, sorridente, porém, enérgico e mimado, com uma certa tendência à violência. Caim, apesar de ser mais velho, não colocava respeito, seu jeito introvertido sempre fazia com que o mais novo levasse vantagem sobre ele. Eram um problema para os pais.
Caim aos quatorze saiu da escola, mas nem por isso era um rapaz ignorante, sempre foi dado aos livros, esta era, de certa forma, uma maneira de fugir do mundo e do 'outro' que lhe ameaça. Aos dezessete, com a ajuda de seus pais, resolveu morar sozinho. Era um apartamento num lugar bem tosco, nos arredores da praça da sé. Era um lugar barra pesada, mas onde pelo menos poderia ficar sozinho, longe das pessoas, longe de seus pais, longe de seu irmão. Abel, na mesma idade que Caim, também largou a escola e, para piorar, se envolveu com drogas. Chegou até a passar alguns meses em uma clínica para sua recuperação. Aos dezoito já era pai, tinha duas filhas, cada uma com uma mulher diferente, ou seria melhor dizer menina diferente, já que as duas eram mais jovens do que ele.
Geralmente os pais são mais afetuosos com os filhos menos problemáticos, mas como alguns bradam que amor de mãe, amor de pai, é tudo igual independente do filho, talvez fosse melhor dizer que sentiam mais orgulho do filho menos problemático. Nesta família, família tipicamente burguesa, porém, essa regra não se aplicava, afinal, era escolher entre o 'mauricinho' briguento ou o estranho trancado em sua 'torre de marfim'. Esses problemas eram resolvidos com dinheiro, talvez ele por si só pudesse educar os dois adolescentes: cartão de crédito, carro, roupas de marca, pensão para as meninas-mães, para Abel; livros, aluguel do apartamento, compras do mês, para Caim. De um lado, o dinheiro apoiava para tentar invocar uma mudança no comportamento, no outro, para afastar para longe o problema. E assim cresceram os dois irmãos, ambos sustentados pelos pais.
Caim já tinha 30 anos quando em um dia comum a campainha de seu apartamento tocou inesperadamente. Já havia semanas que não via um único ser-humano quando o silêncio do lugar foi interrompido. Ele odiava sair de casa. Ficava trancafiado em seu reduto, lendo, escrevendo ou escutando música. Seus pais, uma vez por mês, lhe traziam comida, assim, nem para se alimentar ele precisava sair. Tentava ser uma ilha, ou pelo menos criar uma para si. Apenas preso naquele minúsculo apartamento, com suas paredes descascadas e com seu cheiro estranho, é que se sentia livre, e era livre justamente por ter escolhido isso para sua vida. O mundo exterior, para ele, era coercivo, inibia suas ações e inibia a idéia de mundo que tinha para si, detestava todas as criações e regulamentos dos quais ele nunca participou e tinha, quando estava lá fora, que seguir. “Não há liberdade na sociedade”, sempre repetia para os seus pais quando estes vinham lhe visitar. Eles não conseguiam entender como alguém que não saía de casa podia falar em liberdade. Caim fechou o livro que lia e foi atender a porta. Olhou pelo o olho mágico e viu Abel.
“O que você quer?” falou do lado de dentro. “Abre essa merda, seu merda” retrucou o irmão do lado de fora. “O que você quer? Aconteceu...”. “Abre essa merda, senão eu vou arrombar”. Abel começou a socar e chutar a porta, Caim de costas jogando seu peso contra ela tentava evitar as tentativas do irmão. “O que você quer? Porra. Me deixe em paz”. A única resposta que ouviu foi as batidas na porta. Caim começou a ficar com medo da atitude do irmão e o que era preocupação se transformou em pavor, cada vez mais apoiava seu peso na porta, sabia que não podia deixá-lo entrar, via no outro o próprio inferno, mas não teve forças suficientes para suportar os trancos do brutamontes de academia do lado de fora da porta. Abel chutou, chutou pela última vez levando juntos ao chão, Caim e aquele pedaço de madeira que ele tentava defender.
A porta caiu para um lado, Caim para o outro. Ele levantou meio aréu. Viu seu irmão furioso vindo pra cima dele: um soco, uma dor, o sangue cuspido pela boca, o chão, o chão, os olhos pesados, uma dor, o chão. Quase desmaiado, Caim sentia toda dor de uma direita bem dada e certeira no meia de sua boca, que o fez cair de bruços no chão e entrar em um estado de semi-vigília. Seus olhos pesados, entre o aberto e o fechado, viam Abel andar pela casa apressado. Caim tentava se manter acordado. Abel revirava toda a casa, jogava as roupas para fora das gavetas, abria os livros e os balançavam, mas não achava o que queria. Caim lutava contra seus olhos pesados. Desmaiou.
Água. Acordou com um golpe de água na cara e com algumas bofetadas, sabe-se lá quanto tempo depois. “Anda, acorda seu bosta”. Era Abel que, não achando o que veio procurar, tentava lhe acordar para obter o que tanto buscava. “Anda, cadê o dinheiro? Cadê o seu dinheiro?” Caim começou a rir. Apesar de sua boca estar inchada, ria, ria mesmo com a dor. “Do que é que você está rindo?” gritou Abel enquanto levantava o irmão bela gola da camisa. Caim ria. “Do que é que você está rindo, porra?” Caim foi ao chão mais uma vez, mais uma vez um soco, desta vez no olho direito, mesmo assim continuava a rir. Foi entre risos que falou: “Você é mesmo um drogado de merda. O que foi? A mamãezinha não quis mais te dar dinheiro?”, ria.
Abel ficou furioso e aproveitou o irmão deitado no chão, rolando de rir para chutá-lo na barriga. “Sou um drogado de merda mesmo, mas e você, quem é? Um viado que não sai de casa, vive preso nesse pulgueiro. A vida não é isso não, meu irmão, é muito mais do que isso. Você tem que curtir o mundo lá fora, tem que aproveitar tudo que o dinheiro de nossos pais pode nos dar, tem que curtir a vida, tem que curtir a liberdade. Saia dessa prisão que você mesmo construiu, vamos sair juntos, ir num puteiro...”. Abel parou por um instante e agora era ele quem começava a rir. “Puteiro? Você é um virgem de merda. Já esteve com alguma mulher, alguma vez na vida? Claro que não. Já comeu uma boceta? Claro que não, seu virgem de merda, seu viado de merda” Abel ria, ria. “Saia desse apartamento, seja livre como eu”.
“Livre?” Caim falou sério enquanto levantava se apoiando no sofá. “Você, um nóia, quer me falar de liberdade? Já parou para se perguntar por que você está aqui? Você acha que é livre, mas o simples ato de vir aqui me procurar, procurar o meu dinheiro para se drogar ainda mais, já mostra sua sujeição. Você é dominado pela droga, eu não. Você é dominado pelo dinheiro e tudo o que ele pode comprar, eu não. Nossa mãe me dá dinheiro apenas para o básico: para o aluguel, para comprar comida e para comprar livros; gostaria também de não precisar disso, ao contrário de você. Aqui, não há o dinheiro que você veio tanto procurar, ele não é necessário na minha 'ilha particular', ou na minha prisão, como você mesmo disse. Esse apartamento não me tira a liberdade, eu escolhi isso pra mim. Todas as grades que eu escolho, escolho porque sou livre, essa 'prisão' não me prende, pelo contrário, me traz a liberdade, pois aqui sou livre, sou o mais livre que consigo ser. Aqui crio o mundo que concebo, aqui como com as mãos, durmo no chão, ando pelado quando me dá vontade. Liberdade é não precisar de nada. Quem é você para me falar de liberdade? A roupa que você veste, suas atitudes, seus pensamentos, tudo isso foi escolhido para você. Liberdade não é escolher entre o que te oferecem, é escolher o amarelo, quando te oferecem o azul e o vermelho, isso é liberdade. E, respondendo a sua primeira pergunta: 'Quem é você?', bem... quem sou eu? Se você quer mesmo saber, sou alguém que escolheu a liberdade ao invés da felicidade”.
Abel estava agora batendo palmas. “Estou emocionado, acho que vou até chorar. Pobre garoto infeliz”, falou com deboche. Ele respirou fundo, mudou a feição e falou sério: “Caim, estou perdendo a paciência, me dá a porra do dinheiro.” O irmão mais velho riu. “Já falei que ele não é necessário aqui nesse apartamento. Se você quiser deve ter alguns trocados na minha carteira, trocados que devem estar lá a mais de um mês, pode pegá-los...” pensou em algo engraçado e riu, “pode pegá-los, você é livre para isso, pegue e seja feliz”, ria. Caim se divertia com aquilo, mas sabia da situação em que o irmão se encontrava, era deprimente. No caso a droga aqui era cocaína, mas poderia ser qualquer outra: moda, religião, sexo, televisão, livros, chocolate; qualquer coisa que sobrepujasse aquilo que somos, a nossa liberdade de escolha e nos oferecesse uma falsa idéia de felicidade. Caim sentia pena.
Abel correu em busca da carteira do irmão, não sabia como tinha ignorado aquele objeto, ali, pousado em cima da cômoda da sala, mas se decepcionou com a quantia de dinheiro que havia lá dentro. “Seis reais, seis reais. Eu não compro nada com seis reais” Caim ria.“O cartão, o cartão do banco”, o irmão mais novo achou algo que novamente o trouxe esperanças. “Vamos ao banco, preciso de dinheiro, você vai sacar uma grana para mim. Vamos”. “Eu não sairei daqui”, falou Caim. “Você vai, estou mandando. Vai ir ao banco tirar essa merda de dinheiro para mim, por bem ou por mal”. “Já falei que não vou, não saio desse apartamento”. Abel furioso pegou o irmão pela mão e começou a arrastá-lo. Caim caiu no chão e continuou a ser arrastado. O irmão mais novo já estava quase atravessando a porta quando foi derrubado por uma rasteira, era provavelmente o primeiro ato de violência cometido pelo mais velho. Os dois rolavam no chão trocando socos. Abel conseguiu se levantar e voltou a puxá-lo pelo braço. Era incrível perceber a resistência de Caim, um tipo bem magro, contra aquele brutamontes de academia, seria impossível dizer de onde tirava forças para lutar contra o irmão e contra o mundo que se apresentava nos limites daquela porta arrombada. Sair daquele apartamento a força, era sair para a prisão. Lá fora seria escravo, agrilhoado e sem liberdade, isso, ele nunca permitiria. Lutava. Lutavam enquanto a noite caía e a sala escurecia.
“Você vai. Quer queira, quer não. Nunca vou deixar um nada, um merda como você me impedir de fazer o que quero”, disse Abel que continuava puxando o irmão. “Eu sou livre. Nunca vou deixar alguém me dizer o que fazer, eu sou livre”. Os dois irmãos trocavam socos e exerciam suas liberdades, livres e belicosos. Não havia ninguém para dizer-lhes que aquilo era errado, ninguém para separar aquela briga. Os dois irmãos estavam em estado de guerra.
De repente, um grito: “Eu sou livre!”; era Caim que gritava e corria contra o irmão. O mais velho havia se trombado com Abel e corria, empurrando todo peso do outro para trás. Ele sabia onde aquela corrida iria dar, mesmo assim não parou. Abel foi jogado contra a janela. A janela do 5ª andar estilhaçou-se e o corpo caiu no meio da avenida que passava em frente ao prédio. O trânsito imediatamente parou. Caim foi até a janela e olhou para irmão morto jogado ao chão.
Fechou os olhos, virou-se e foi colocar a porta no lugar. Foi ao banheiro, limpou o sangue que saia de sua boca e lavou o rosto. Voltou para a sala e sentou-se. Sentou-se em um silêncio escuro. Não quis descansar suas costas no encosto do sofá, não quis parecer a si mesmo muito relaxado. Também não quis ficar de pé, nem mesmo sentar-se em uma cadeira dura e gelada da cozinha. Se tinha de esperar que fosse com conforto. Por mais incrível que pudesse parecer, nada passava por sua mente. Algumas vezes lhe dava uma vontade quase incoercível de sorrir, mas ele, no final, conseguia dominar essas forças doentias, e ele sabia que eram doentias, e segurava o sorriso. Os minutos não passavam, ele não tinha um relógio por perto, mas sabia que não passavam. Eles estavam demorando, talvez nunca viessem, talvez devesse se entregar. Conforme a noite ia ocupando seu espaço a sala ficava mais escura e ele, cada vez mais, era consumido pelas trevas. O silêncio foi interrompido, era a campainha.
Independentemente de todos que venham dizer que o destino de Caim era matar Abel, como aqueles que, com medo que uma tragédia assim pudesse acontecer, já haviam tentado avisar os pais dos dois irmãos sobre os maus augúrios que acompanhavam esses nomes, eu sempre afirmarei que a luta que se deu e a morte ocorrida não foi caso de predestinação, mas sim, uma guerra de liberdades pela própria liberdade.

6 comentários:

pontos... disse...

Muito bom, jota!! Um dos contos mais "redondos" do blog... Huxley e Locke na veia! "Liberdade é escolher o amarelo, quando te oferecem o azul e o vermelho." Perfeito paralelo com Matrix (era disso que falava?) quando promete a Liberdade nas pílulas; e é o sentido que eu enxergo de Liberdade, também! Curti demais a estrutura: a contradição com o conto bíblico, onde Abel era o "bonzinho". E se pensarmos mais afundo, no conto bíblico, Abel oferece como sacrifício um "corpo animal" à Deus, e Caim não, por isso Deus prefere o sacríficio de Abel, e aí Caim fica bravo. Aqui no seu, o corpo de Caim é dele, é livre,(e assim eu enxergo) é do Deus nele. E aí Abel não consegue compactuar (Hobbes?) com isso, com tal Liberdade, e tal domínio de si, e queria que ele aceitasse outra Liberdade, a livre felicidade.

De novo, muito bom!!! Vou pensar mais sobre o conto, ainda!!

pontos... disse...

Ah, e o Jeremias, além do 'J' inicial, tem um sentido histórico-biblíco-simbológico também!

J. J disse...

Fernando esse conto é um dos contos mais misturados (e complicados) que eu já fiz, hahaha, você conseguiu sacar algumas coisas... Na verdade ele começou por causa de uma frase do Sartre "O limite da Liberdade é a própria liberdade", pirei nessa frase, procurei alguns artigos para entender a liberdade do sartre pelo que eu entendi o homem é livre ontologicamente falando, se aristóteles fala que o homem é um ser politico, Satre fala que o homem é um ser livre. Para sartre você só é livre escolhendo e por isso Caim era livre, porque ele escolheu viver recluso. Ai começa a mistureba, to lendo umas coisas do Bauman que falam sobre liberdade, que as pessoas que vivem dentro das suas possibilidades de ação e o seu desejo não são livres, são condicionadas a pensar que são, ai entra o Huxley e a sociedade atual... Ai lembrei de um artigo que li "Two Concepts of Freedom" que explicava os conceitos de liberdade negativa e positiva que usei no seminário do Paine, e o cara nesse artigo dava um exemplo de um cara drogrado, que não era livre pois estava sendo guiado pela droga, e isso não era liberdade, que liberdade são atos voluntários (no caso para a visão positiva de liberdade).
Ai entra o "Na natureza selvagem". Me dei conta lendo o Bauman que, quando ele diz que a Felicidade verdadeira é compartilhada, talvez a liberdade de verdade (se é que isso existe) só pode ser fora da sociedade, o cara foge, encontra a liberdade, foge do sistema, mas acaba não sendo feliz de verdade, pois, não tem ninguém para compartilhar. Então pelo filme, talvez numa conclusão inconsciente ou numa viagem minha, liberdade do sentido mais puro da palavra não pode coexistir com Felicidade. Foda!
Se a liberdade não pode ser alcançada na sociedade, Caim se isola. E se não há "sociedade" de direitos, ou um soberano para mediar a sociedade, estamos em Estado de Guerra, talvez, a conclusão que eu chego e que não sei exatamente se estou certo, teria que pensar mais um século sobre isso, é que só há liberdade no estado de guerra.
Meu viagem, vamos conversar pessoalmente sobre esse conto, hahaha...
Ah, depois você precisa me contar a história do Jeremias, o lance do J, eu percebi, ahahaha...
Abraço

J. J disse...

Ah, pode crer, tem um lance Matrix que nem havia percebido, principalmente por causa das cores, ahuahuahauha...

Anônimo disse...

Pirei!!!!!!!!!!!!!
Há anos não fico presa, sem respirar, sem ouvir o q minha filha pede...Smplesmente me transportei , senti o cheiro mofado do apto, vi de baixo para cima o ódio nos olhos de Abel!!!
Tudo, perfeitamente amarrado ao mesmo tempo que segue por qq caminho LIVRE da sua imaginação...consegue levar o leitor para dentro da sua cabeça, e não apenas para dentro do conto.
Quero ler TODOSSSSSSSSSSSS
Além de te amar, te admiro cada vez mais....
bjos

Anônimo disse...

A-D-O-R-E-I! Prefiro não comentar,e sim contemplar esse conto belo! Beijocas