domingo, 13 de abril de 2008

O Individualismo e a Técnica

Hoje estava lendo um livro chamado “Cybercultura”, escrito por um filósofo francês, que abordou um ponto interessante: nada é desenvolvido se a sociedade não está pronta para absorver tal coisa. Ainda não sei bem se concordo com ele, pois até agora achava que a técnica é quem guiava a sociedade, ou seja, que a descoberta de uma nova tecnologia é o que mudava a maneira de ser, atuar e de se relacionar dos povos. Como exemplo, podemos citar a internet, cuja, em minha opinião, mudou o jeito da sociedade se enxergar, além de conseguir juntar duas coisas distintas: autonomia e alteridade. Aproveitarei os argumentos do filósofo para, de acordo com eles, mostrar minha opinião e discutir algumas peculiaridades interessantes, expandindo seus exemplos.
Pierre Lévy, o autor do livro, através de alguns exemplos dá fortes argumentos que discordam de minha idéia, defendendo que a técnica é criada pela sociedade que precisa dela para suprir suas necessidades individuais. Nesse sentido o individualismo seria um forte “patrocinador” para o desenvolvimento de novas tecnologias e meios de relacionamento.
Segundo essa premissa, a criação e aquisição de carros buscam uma autonomia de locomoção do ser, como pessoa única. O que podemos interpretar como uma tentativa de estar fora da coletividade, fora do caótico transporte público, ser livre do todo. O mais engraçado nisso é que quanto mais os indivíduos tentam sair do coletivo, mas se juntam a uma nova forma de coletividade. Aquele ser humano que comprou um carro para se destacar em sua autonomia está, hoje, preso em um engarrafamento junto com mais alguns dos diversos indivíduos que buscaram tal liberdade.
Outro exemplo interessante é a criação do correio, que só surgiu no século XVII, apesar de experiências parecidas na antiguidade e na China. A era do desabrochar do individualismo, segundo muitos autores, foi o que propiciou o desenvolvimento da comunicação entre particulares, gerando uma série de “revoluções”: “a correspondência econômica e administrativa, a literatura epistolar, a república européia dos espíritos (redes de sábios, de filósofos) e as cartas de amor... O correio, como sistema social de comunicação, encontra-se intimamente ligado à ascensão das idéias e das práticas que valorizam a liberdade de expressão e a noção de livre contrato entre indivíduos” (LÉVY, 1999). Porém, por outro lado, a correspondência entre duas pessoas conhecidas através de seus endereços pessoais, hoje, virou também um suporte para o mercado e suas “malas diretas”.
Segundo Lévy, a popularização dos “personal computers” também surgiu por causa do desejo da individualidade, o desejo do privado, e o que era sonho no começo do século passado se tornou realidade nas últimas décadas do século passado.
Pensando nisso e em como as novas tecnologias são forjadas para o indivíduo, achei outros modelos interessantes no nosso dia a dia. Por exemplo, como disse um professor meu da faculdade de História, já pensaram por que a privada recebe esse nome? Quer algo mais individualista do que as suas necessidades fisiológicas? Nos quartos de uma casa de classe média, quase em sua totalidade, há uma suíte, novamente a intimidade do casal e muitas vezes dos filhos. Hoje em dia, pensando ainda nas residências, cada quarto tem sua TV, seu DVD, seu computador, cada um tem o seu, o espaço da sala que reúne a família está cada vez mais distante.
Todos esses pensamentos surgiram numa viagem de trem permeada por seus indivíduos com seu ídolo de individualidade musical, o mp3. Quero deixar bem claro que não estou criticando o uso de aparelhos de mp3, tenho o meu também, mas é interessante pensar como o ato de ouvir música “evolui” - entre aspas porque é complicado dissertar sobre o que é “evolução” - de um encontro social, representado pelos concertos públicos, para a vitrola no âmbito do lar, para o individualismo do walkman, discman e finalmente, do mp3. Hoje não estamos mais limitados nem mesmo pelos formatos da industrial cultural, ou seja, o álbum. Agora podemos escolher apenas as músicas que mais nos satisfazem de cada disco e ter quantas canções suportarem os Megabytes dos nossos mp3. Já não precisamos mais andar com um porta-cd lotado com várias possibilidades de álbuns, tal formato já não nos escraviza mais.
Toda essa individualidade é interessante, se por um lado ela nos aprisiona novamente nos engarrafamentos, por outro, nos liberta da Indústria Cultural e outras tentativas de massificação. Nesse texto tentei apenas levantar alguns pontos para pensarmos sobre o assunto, não proponho chegarmos a conclusões, pois o assunto é vasto e não há uma “verdade” inexorável, mas quero deixar algumas perguntas: será que o passado nos mostra que a individualidade leva à massificações, à coletividade? Será que algum dia seremos prisioneiros de nossa liberdade via mp3?

Um comentário:

Anônimo disse...

É muito curioso e acredito até intrigante falarmos da sociedade hj em dia, pq hj temos mais do que nunca que falar da sociedade pensando nas milhasres de cabeças pensantes que veem o mundo cada uma de uma maneira diferente. sendo assim como classificar sociedade ? essa coisa do individualismo acredito que seja uma fuga do ser humano! nós somos os seres que mais dependentes um do outro, dependemos do verdureiro que planta, do industrial que monta o mp3, do cantor que compoe as musicas, da gravadora, da montadora de carros, do revendedor, do caminhão cegonha que trará o seu carro .... nós dependemos de tudo e de todos. Não sou especialista mas acho que temos um bug ao assumir isso. A mesma coisa que aconteceu no passado e acontece hj quando homens dizem que melheres devem ser subimissas e naum assumem que nós dependemos talvez muito mais delas do que elas de nós. Acho que há talvez um preconceito em assumir que somos dependentes, queremos ser superiores e mostrar independência mostrar poder e força ! Lamento q essa mentalidade tenha ganhado tal dimensão, pois quanto mais o homem se individualiza, mais ele fica escravo do mecânico, do eletronico, começa a desaprender a lidar em sociedade e regride e interioriza em seus proprois pensamentos, deixando de evoluir em grupo ( como vem crescendo nossa sociedade e se mantendo até hj ) para se tornar um 'poderoso', 'auto-suficiente' e 'independente' homem q naum evolui. ( pois sozinho ñ conseguiremos chegar a parte alguma).