sábado, 28 de agosto de 2010

Depois de Tudo


Uma das coisas que mais gosto dos momentos que seguem toda aquela folia é ver o desenho que nossas roupas, jogadas no chão, formam pelo quarto. Às vezes, enquanto os primeiros raios de sol entram pela janela do cômodo insone, anunciando o novo começar, e você busca se aconchegar no meu peito entregue, trago vagarosamente o último cigarro do dia que se vai, olhando admirado e orgulhoso os vestígios de um passado não muito distante e que ainda pesa sobre os nossos corpos. Peças de roupa, como as de um quebra-cabeça, que escondem uma imagem. Metáforas arrancas às pressas e lançadas em qualquer canto, que, ao mesmo tempo, escondem e contam o sublime. Como se o ato não pudesse ser descrito, mas, apenas, reconstruído através de vestígios, como pistas, índices de um crime sem testemunhas. No entanto, não há crime, não isso não! Apesar dos corpos sem forças, não há crime. Descrever seria assinar, o verdadeiro delito. As palavras, invólucro tão sem jeito, só deformariam o inominável. É por isso que entre um dia e o outro, entre o sono e a vigília, enquanto espero você sorrir sonolenta e satisfeita para mim, procuro os vestígios. É através deles que conhecemos nossa pequenez e nos aproximamos do sublime; uma forma de olhar o sol sem cegar as vistas e de desenhar uma imagem sem encarcerar o conteúdo.

Nenhum comentário: