terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Muro

Tentava acompanhar o que seria, pois a cada passo deixava de ser o que era. Como não podia mais voltar, corria atrás daquele eu que tanto tentava agarrar, mas que sempre me escapava. De repente, aquilo, que é o que ainda não sou, mas deveria ser, correu a frente, tomou impulso e pulou um muro que a mim, em um primeiro momento, pareceu impossível de se pular.

- Você viu o que serei pulando esse muro? – perguntei para um homem que parecia estar tediosamente cumprindo uma missão silenciosa.
- Desculpe-me. Não vi nada. – respondeu-me.
- Ele pulou esse muro, tenho certeza. Preciso dar um jeito de ultrapassá-lo. Você conhece um jeito de fazer isto?
- É só você contornar o muro. Isto feito, você poderá desfrutar, então, das maravilhas do outro lado.
- Quer dizer que o outro lado é melhor do que esse? – perguntei curioso.
- Melhor? – indagou meu amigo surpreso com a ingenuidade da minha pergunta. – Lá, tudo o que você imaginar se torna realidade; lá é o mundo perfeito.
- Nossa! E por que você ainda está desse lado?
- Não posso ir ainda, tenho que contar essa descoberta para o máximo de pessoas que conseguir. Só após esta minha tarefa poderei atravessar. Não vejo a hora, caro amigo. Não vejo a hora!
- Você quer que eu aguarde aqui com você? Digo: Quer ajuda na sua tarefa? A gente podia revezar em turnos para que você pudesse descansar.
- Não meu caro, vá você. Estou bem. Além do mais, se cada uma das pessoas que aconselhei, tivesse esperado aqui comigo, o cumprimento da minha missão seria impossível, pois todos continuariam deste lado. Por isso, vá em paz.
- Tem certeza? – perguntei novamente por educação.
- Tenho. Vá em paz e boa sorte. Não há dúvidas que gostará do outro lado do muro. Como disse, é perfeito; a perfeição na terra.
- Bem, então vou seguir o seu conselho e procurar logo o lugar para fazer a travessia. Ou melhor: Você poderia me ajudar a subir no muro e eu poderia me jogar para o outro lado.
- Desculpe-me, caro amigo, mas não posso. A travessia para o outro lado você deve fazer sozinho. E, por mais que você queira pulá-lo, sozinho não alcançará o seu topo para que possa ultrapassá-lo. Por isso, terá de contornar o muro. Não há outra forma.
- Ok! Mais alguma instrução?
- Não, nenhuma. Vá em paz.

Estava indo, seguindo o meu caminho, quando voltei e perguntei:

- Você sabe quantos quilômetros tem esse muro?
- Isso depende – respondeu meu interlocutor, meio lacônico.
- Depende de quê?
- Depende de você.
- De mim? – perguntei
- Sim! O muro faz parte de você. Quando cansar ou esquecer que ele existe, poderá parar de construí-lo.
- E por que eu iria construir mais do muro, se na verdade quero ultrapassá-lo, como você mesmo me convidou a fazer?
- Porque o outro lado só existirá, enquanto houver o muro.
Foi assim que construí um labirinto.

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